segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco Da Rua Fleet




Apesar de ter seus méritos esteticamente, Burton parece se esforçar pra arrasar com o filme, desde personagens mal trabalhadas e uma narrativa medíocre até uma montagem cansativa e simplória, Sweeney Todd ofende ao subestimar o espectador, mas ofende ainda mais aos ouvidos.

Baseado no musical de sucesso da Broadway, esta adaptação de Tim Burton (Ed Wood, Peixe Grande), do clássico Sweeney Todd para o cinema leva nomes de peso em seu elenco como os já conhecidos do diretor, Johnny Depp (Edward mãos de Tesoura) e Helena Bonham Carter (Noiva Cadáver).
Com um grande potencial em termos de personagens, diálogos e trama, Tim Burton da uma lição de como por tudo isso por água abaixo e fazer um filme que agride ao espectador mais exigente e também ao menos.
Sob uma óptica no mínimo interessante de Burton somos conduzidos a uma Londres do século XIX completamente obscura, suja e podre para qualquer um que não seja de um alto escalão profissional, e é nessa Londres que somos apresentados á Sweeney Todd (Depp), um barbeiro que retorna a cidade após cumprir 15 anos de exílio em uma prisão.
Sweeney, outrora Benjamin Barker, fora condenado injustamente pelo Juiz Turpin (Alan Rickman), que tomou-lhe também mulher e filha, e volta agora em busca de vingança contra aqueles que lhe sentenciaram ao exílio e lhe tiraram tudo, chegando a cidade, ele conhece a Srta. Lovett (Helena Bonham), que passa a ser sua assistente e companheira em seus atos de barbarie.
O filme é contado através de uma narrativa não-linear, a partir do momento que somos apresentados a fatos passados da vida de Todd ao decorrer do longa, o que influencia ainda mais para que o filme seja um desastre, temos ainda sendo contada paralelamente a historia de amor (a primeira vista e a longa distancia) entre Johanna (Jayne Wisener), a já crescida filha de Sweeney, e Anthony (Jamie Bower), o marinheiro que acompanhou Sweeney de volta a Londres, e é o acréscimo desta sub-trama á historia que a afunda ainda mais, afinal fica muito claro na tela, que ao tentar abordar todas essas historias em conjunto, Burton acaba por não abordar nenhuma de forma eficaz.
Não só a trama é abordada de forma medíocre, mas como as personagens são muito mal trabalhadas, personagens com um potencial imprescindível que Burton simplesmente banaliza e opta por dar mais valor ao sangue e ao sensacionalismo do que á psique de um barbeiro cujo próprio titulo enfatiza ser um personagem demoníaco, um personagem mutilado psicologicamente por seus anos de exílio, um personagem com um potencial imenso em termos de dramaturgia, e que poderia abrir uma vastidão de analises filosóficas em cima da representação de uma persona transtornada e levada a insanidade devido ao isolamento e a separação daqueles que amava, mas não, Burton se preocupa tanto em manter seu estilo gore, sua marca registrada, que esquece de dar margem a qualquer reflexão que possa vir após o filme.
Alias, um ponto que tem de ser levantado mas dessa vez como mérito é a questão do estilo, ao bater os olhos, qualquer um, por menos experiente que seja, sabe que se trata de um filme de Tim Burton, e não ha como negar a beleza estética e visual que há nesse estilo, e como tecnicamente ele só tem a acrescentar ao filme e a historia, a fotografia belíssima assinada por John Conroy contribui para que tudo isso funcione perfeitamente bem, talvez o que incomode um pouco nesse sentido são os travels de câmera rápidos pela cidade, o que lembra um pouco as animações do próprio Burton, mas ai também já é mais uma questão de gosto.
Assim como a fotografia, outros elementos que compõe o estilo do filme, e compõe muito bem, são a arte e o figurino, que magistralmente criados, funcionam como uma sinfonia muito bem elaborada, nesse aspecto visual , perfeitamente desenhados eles nos remetem com uma precisão exata á aquela Londres suja e obscura, justamente como deve ser, e nesse sentido pelo menos o filme consegue nos envolver.
Mas ai quando somos finalmente jogados pra dentro do filme, Burton vem e já nos joga pra fora novamente, dessa vez com canções repetidas e grosseiras ao ouvido, nas vozes de atores que não tem porte para esse tipo de papel, mais uma vez Burton se mostra bitolado a elementos de grande importância, e acaba levando o filme a um poço sem fim por não saber abrir mão de certas coisas, como de Johnny Depp, que tem sem duvidas uma atuação de mérito, mas apenas quando esta de boca fechada, por que era ele tomar fôlego pra cantar, que o espectador murchava em sua poltrona, o mesmo acontecia com o resto do elenco, todos muito bem, até começarem a cantar, isso até que não seria um problema tão grande ... se o filme não fosse um musical.
Apesar de ter seus méritos esteticamente, Burton parece se esforçar pra arrasar com o filme, desde personagens mal trabalhadas e uma narrativa medíocre até uma montagem cansativa e simplória, Sweeney Todd ofende ao subestimar o espectador, mas ofende ainda mais aos ouvidos.